Fome global e escassez “bíblica” devem dobrar diz ONU

O mundo está enfrentando o risco de fome “bíblica”, enquanto a crise do coronavírus ameaça dobrar a fome global, alerta a ONU.

Na terça-feira, o Programa Mundial de Alimentos da ONU (PMA) projetou que o número de pessoas que provavelmente passariam fome passaria a subir para 265 milhões no final de 2020, ante 135 milhões em 2019.

Isso significa que mais 130 milhões de pessoas estão enfrentando insegurança alimentar, principalmente devido ao impacto econômico da crise do coronavírus. Salários, cadeias de suprimentos e ajuda humanitária estão sob pressão devido ao surto

Na semana passada, o Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou que a economia global poderia enfrentar a pior crise financeira desde a Grande Depressão.

O crescimento global projetado pelo FMI sofreria contração de 3% em 2020 por causa do vírus.

A pandemia da fome

Na terça-feira, David Beasley se dirigiu ao Conselho de Segurança da ONU, dizendo que o mundo estava enfrentando a pior crise humanitária desde a Segunda Guerra Mundial. Beasley é diretor executivo do PMA.

Ele disse que o mundo enfrenta uma pandemia de fome e, ao mesmo tempo, lida com a pandemia de Covid-19.

Segundo Beasley, o PMA está atualmente fornecendo apoio alimentar a quase 100 milhões de pessoas. No entanto, ele alertou que o vírus pode dificultar o acesso do PAM a eles, pedindo à ONU mais ajuda.

Em uma videoconferência, ele disse que mais de 300.000 pessoas podem morrer de fome todos os dias em três meses se não receberem assistência que precisam para salvar vidas.

O número exclui o aumento da fome devido às mortes por Covid-19.

Beasley solicitou mais US$ 350 milhões para estabelecer centros de logística para manter as cadeias humanitárias globais em movimento.

Ele pediu também às nações envolvidas em um conflito a fornecer acesso humanitário rápido e desimpedido às comunidades vulneráveis.

Ele enfatizou a importância de garantir o acesso e evitar interrupções e deficiências no comércio. Sem isso, o mundo poderia enfrentar várias fomes de proporções bíblicas em poucos meses.

Em 2019, o PAM identificou dez países enfrentando uma crise econômica e mudanças climáticas. Algumas das nações mais afetadas e com risco de escassez aguda de alimentos incluem; Iêmen, Sudão do Sul, Venezuela e Nigéria.

O PAM disse que o Iêmen provavelmente sofrerá mais durante a crise alimentar mundial em 2020. Isso se deve ao conflito, pragas, conflito climático e crise macroeconômica.

Enquanto isso, na África Oriental, enxames severos de gafanhotos poderiam agravar a insegurança alimentar aguda.

Arif Husain, economista sênior do PMA, disse que a crise do coronavírus pode ser catastrófica para milhões de pessoas que já estão por um fio.

É ainda pior para milhões de pessoas que dependem do salário diário para comer. O bloqueio e a recessão econômica global já destruíram suas economias.

Só será necessário mais uma crise, como a da Covid-19, para empurrá-los além do limite.